Publicado 26/04/2010
Viajar 100% mão-de-vaca-muquirana é deprimente. A inhaca começa quando você passa a restringir passeios importantes, abreviar os restaurantes, encurtar as saídas noturnas, diminuir o investimento em souvenires, tipassim, “corta o imã de geladeira”. Desejo sorte, mas aviso: sua viagem acaba antes mesmo de começar.
Não se trata de desrespeitar um orçamento restrito. Proponho apenas abrir a mente para entender que momentos de extravagância devem fazer parte do seu roteiro. Aprenda a identificar as experiências de luxo que mais combinam com seu estilo e expectativas de prazer. Em muitos casos, elas nem são tão caras como você poderia supor.
Ninguém está falando para deixar o salário do mês em algum restaurante estrelado para comer duas tirinhas de carne enfeitadas com um ramo de salsinha se a alta gastronomia não significa nada para você ou para sua família. O foco do momento-extravagância deve ser algo dentro da sua capacidade de investimento, mas que proporcione uma vivência singular e diferente do seu dia a dia.
Experimente almoçar no restaurante do MASP – o mais importante museu de arte da América Latina. Servem um bufê em estilo self-service com uma grande variedade de pratos – do bacalhau à anchova grelhada, do salmão ao filé mignon. Gasta-se entre R$ 25,00 e R$ 40,00. A pompa está justamente no lugar e na companhia: um acervo espetacular com grandes nomes da pintura.
Você aprecia vinhos? Ah, sei, o orçamento apertado sempre impede de trazer aquele Malbec queridinho. Eu não voltaria frustrada. Procuraria as melhores casas do ramo no meu destino e torraria logo umas cinquenta pilas num abridor alemão dois estágios – seja lá o que querem dizer com isso. Assim, eu não teria apenas uma única garrafa para compartilhar com os amigos uma única vez, mas um acessório sofisticado para exibir a vida inteira.
Não pode comprar, mas quer apurar o gosto? Pague R$ 20 por quatro horas de estacionamento na Daslu – o templo do consumo de luxo no Brasil. Já no Duty-Free você sempre lança aquele olhar lânguido e pidoncho para cima dos chocolates belgas, mas acha um absurdo pagar R$ 30,00 (algo em torno de US$ 17) em uma barra de 250 g? Peralá, pense. Por que não fazer desse investimento um momento-extravagância? Primeiro, você deseja profundamente aquilo. Segundo, vai desfrutar de forma colossal. Terceiro, você não vai ficar R$ 30 mais pobre. Vai ficar alguns anos mais feliz! Estado que, convenhamos, nenhum dinheiro pode comprar.
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Texto originalmente publicado na minha coluna “Viagens Econômicas e Inteligentes”, que sai toda semana no portal Descubra Brasil.