Atualizado 24/08/2010

Temos uma moeda forte no exterior. As passagens aéreas internacionais não são exatamente uma pechincha, mas a oferta é ampla e há promoções ruidosas. Alguns países como a Argentina nunca foram tão baratos para o brasileiro como agora. Com tanto apelo fica difícil pensar em viajar pelo Brasil – que está sempre aqui, pertinho de nós.

Sei o que você está pensando. Que passar sete dias numa pousada domiciliar em Fernando de Noronha fica apenas um pouco mais em conta – ou a mesma coisa – que uma semana em Cancun, no México. Também já fiz esse tipo de comparação. Aliás, mea culpa, conheci as Cataratas do Niágara, no Canadá antes de botar os pés em Foz do Iguaçu, que está a 650 quilômetros da minha casa.

Não é difícil de entender este raciocínio. Uma viagem internacional – até há bem pouco tempo – era coisa de gente rica, bem sucedida ou metida à besta. De qualquer forma, carimbar o passaporte sempre foi sinônimo de status, prestígio ou evolução espiritual. Mesmo a mais mochileira das viagens à Europa dará a você a reputação de gente bacana!

O detalhe é que se nos déssemos ao trabalho de descobrir todos os países que existem dentro do Brasil, iríamos considerar mais vezes as viagens nacionais. Eu tenho feito este esforço. Parei de reclamar, coloquei o Brasil na – minha – moda, aproveitei o ensejo, ignorei alguns preconceitos e decidi que o país do futuro é, na verdade, meu presente. Nos dois sentidos.

Olhe só: ainda não atravessei o Danúbio, o segundo rio mais extenso da Europa. Mas já percorri o Rio Amazonas, o maior do mundo. Não deu ainda para destrinchar todos os vilarejos da Alemanha. O bom é que já tive a oportunidade de conhecer a autêntica Pomerode, cidade catarinense onde a Rota do Enxaimel revela a mais pura herança da cultura germânica no Brasil.

Infelizmente não estive no Museu Hermitage – que abriga a maior coleção de pintura da Terra – em São Petersburgo, na Rússia. Ah, mas felizmente já passei um dia inteiro no arrebatador Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. O único, em todos os continentes, a homenagear um idioma, o nosso.

Turismo exótico? Não é necessário ir à Índia que, aliás, fica bem mais longe que dar uma esticadela, logo ali, ao Nordeste brasileiro. Em qual outro lugar do mundo – senão aqui – você provaria uma buchada de bode, dançaria um tipo de música chamada eguinha pocotó e acenderia uma vela para Deus e outra para Padim Ciço? Explorando o Brasil, certamente de bacana passaríamos a inteligentes. E de viajados, a sortudos!

Foto: Florianópolis, SC. (Raul Mattar)

Texto publicado originalmente na minha coluna “Viagens econômicas e inteligentes”, que sai toda semana no portal Descubra Brasil.