Atualizado 20/01/2019


Sou do tempo em que viajar pela Varig era como chegar ao topo da pirâmide social de um turista. O menu era internacional. Os talheres, de prata e a passagem, a mais cara. Só por isso, qualquer voozinho de 45 minutos pela Viação Aérea Rio-Grandense nos enquadrava interinamente como “ricos”. Escolher a Varig era, também, uma decisão “inteligente”: pagava-se um pouco mais, mas o plano de milhas da companhia – associada à Star Alliance – era o melhor do mundo. Por fim, sendo a companhia brasileira que voava para mais destinos – nacionais e internacionais – dar preferência à Varig nos tornava “viajados”. E esse era o título mais simpático que a empresa poderia nos dar: afinal ser viajado é ainda bem mais interessante que ser rico ou inteligente.

Há alguns anos, numa incrível abertura do reverso, viajar pela Varig virou motivo de chacota. Os aviões foram ficando velhos e a comida – que teve até caviar! – se reduziu a sanduichinhos de presunto e queijo. O único que não mudou foi o preço dos bilhetes: sempre o mais caro. Ou seja, viajar pela Varig nos últimos tempos nos dava a denominação honorífica de acéfalo. Já o salseiro atual nos aeroportos – quando os vôos são cancelados – escreve na nossa testa exilado. De viajados passamos, por motivos de força maior, a turistas burros e expatriados.

Logo agora que fui promovida ao cartão prata do Smiles, a Varig resolve simplesmente falir! A empresa -ironicamente- não assume, o governo -sabiamente- ignora, os funcionários -discretamente- desconhecem. Na verdade, nem eu acredito. Seja lá qual for o desfecho dessa história, todo mundo sai perdendo: o Brasil que assiste ao fim de um orgulho nacional; os empregados que vão aumentar a fila do Sine; os passageiros que engrossarão a lista do Procon e eu, que provavelmente perderei minhas milhas acumuladas e, conseqüentemente, algumas viagens de graça. Que graça tem isso? Definitivamente, não acredito.


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