Publicado 08/02/2010
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Atualizado 23/03/2012
É certo. Na França ninguém perde um crepe de esquina. Se o destino for Grécia, todo mundo quer experimentar o gyros – o nosso churrasquinho grego. Ao circular pela Alemanha, qualquer salsichão é bem-vindo. No Brasil, se você sai para comer um bolinho de bacalhau, ali no bar daquele tiozinho perto do seu trabalho, todo mundo vai dizer: óóó, cuidaaado!
Comidinhas de rua sempre tiveram fama – seja pela diversidade, preço baixo ou risco de provocar um desarranjo inconveniente. Verdade seja dita. São irresistíveis. O segredo está em encontrar uma comidinha boa-pinta, com seguro de origem (a indicação de alguém, por exemplo) e garantia de saída. Lugares cheios significam que o quitute é novinho já que o rodízio de gente é grande.
Se seu amigo estrangeiro viesse ao Brasil e quisesse provar algum pitéu ou petisco típicos daqui o que você recomendaria? Pão de queijo? Mandioca frita? Fariam sucesso. Agora, arrisque mais. Em qual outro lugar do mundo você encontra coxinha de frango com catupiry? Imagine oferecer uma iguaria dessas por apenas R$ 2,50? Passando por qualquer feira ao ar livre, o pastel de carne (com caldo de cana!) sempre dá samba e para o gringo não sai mais do que US$ 2,00.
Sem falar no espetinho, assado na hora. Sim, aquele que muita gente desconfia de que seja feito com carne de gato. Por que quando você está fora do Brasil não faz as mesmas suposições? Gato existe em qualquer lugar do mundo. Pois é, trate de deixar o preconceito trancado dentro da mala. Aposto que quando você pede na Holanda aquele cone de batatas fritas cheio de maionese nem pensa que isso, de fato, pode dar uma tremenda desconjuntura e acabar com sua viagem.
Imagino, algum receio você teve na Bahia quando pensou duas vezes antes de provar o acarajé – uma das especialidades gastronômicas mais típicas do país. Por módicos R$ 3,00 é possível mergulhar na culinária local e provar uma massa suave feita de feijão-fradinho, frita em azeite de dendê e recheado com uma pasta de vatapá, camarão seco, pimenta (a gosto!) e salada. Daí para a pamonha são dois pulos. Geralmente vendida na beira da estrada, ao lado do curau – outro acepipe com a cara do Brasil – o manjar de milho cuidadosamente embalado numa palha deveria virar patrimônio imaterial.
Provemos, então, o afamado sanduíche de pernil, oferecido nas melhores casas do ramo. Pão crocante, carne desfiada e levemente tostada. Alguns acompanham pedacinhos de abacaxi. Mais tupiniquim do que isso só o queijo coalho – feito na hora, em baldes improvisados pelos vendedores ambulantes espalhados pelas principais praias do Brasil. Custa entre R$ 1,50 e R$ 3,00 – quando muito caro. Aliás, não só na praia. O melhor queijo coalho que comi foi na Rua 25 de Março, em São Paulo. Uma temeridade, eu sei. Mas, como podem ver, sobrevivi para contar história.
Foto: Queijo coalho na Rua 25 de Março, em São Paulo. (Raul Mattar)
Texto publicado originalmente na minha coluna “Viagens econômicas e inteligentes”, que sai semanalmente no portal Descubra Brasil.