
No primeiro mochilão da Mariana (que acabou de completar nove meses), resolvemos apresentá-la à Estrada de Ferro Curitiba-Morretes-Paranaguá. A viagem revela um marco da engenharia do século 19. Nove mil homens trabalharam na construção da ousada obra que ficou pronta em cinco anos. Um recorde para os padrões da época.


Dezenas de idiomas e estilos partem todos os dias da Estação Ferroviária de Curitiba rumo à fascinante Serra do Mar. Pelos trilhos – inaugurados há 120 anos – o passeio se dá em meio à rica mata atlântica: um pedaço do Paraná reconhecido pela UNESCO como Reserva da Biosfera.
Quando embarcamos – no domingo passado – 13 vagões formavam uma babel moderna na viagem de pouco mais de três horas. No nosso caso, houve um imprevisto: durou quase cinco horas por conta de problemas de contato com a central, o que fez o trem parar várias vezes no meio do caminho.
O percurso é de imagens surpreendentes com 14 túneis, 30 pontes, cachoeiras e abismos. O trem se equilibra nos trilhos e em alguns momentos, como no viaduto do Carvalho, parece voar sobre os dormentes. O Túnel Roça Nova é o mais extenso com 457 metros de comprimento.
A adrenalina me incomoda um pouco. Não sou fã de nada radical. Mas as sensações de medo que às vezes temos dentro do trem (parece que ele vai rolar morro abaixo) são seguidas imediatamente pelo prazer de estar envolvido naquela velha combinação de aventura, paisagem e história. A Mariana? Nem tchum.Tivemos que segurar a herdeira do clã.
Logo que o trem parte começa o serviço de bordo. Entregam uma caixinha simpática que inclui bolo, bolacha, barra de cereal e uma bebida (água, chá, suco ou refrigerante). Um guia nos acompanha o tempo todo dando as informações necessárias sobre o trajeto. O passageiro também recebe um saquinho com sementes de palmito para que sejam jogadas na mata atlântica durante a viagem. Uma proposta da Serra Verde Express (empresa que administra o passeio) em parceria com o Rotary para contribuir com o ecossistema.
Na hora de comprar a passagem existem várias categorias: econômica, turística, executiva ou camarote e litorina. Na classe econômica os bancos são de plástico e não há serviço de bordo. O bilhete de ida sai por R$ 32,00.
Nós optamos pela turística, com janelas amplas e bancos de couro. Na turística, a passagem custa R$ 58,00 por pessoa. A partir da classe executiva as bebidas são à vontade. Já a viagem de litorina – um veículo com motorização própria – é considerada a mais charmosa. Tem ar condicionado e comissário bilingue. O ticket sai por R$ 135,00.
O cenário da mata preservada, daquele verde sem fim… tira o fôlego. Os passageiros disputam as janelas panorâmicas. É um vai e vem entre os lados direito e esquerdo do vagão, uma vez que em ambos aparecem ambientes fotográficos. O Véu da Noiva – uma cachoeira do rio Ipiranga – faz parte de um deles.
Logo adiante passamos pela Ponte São João com 55 metros de altura. E em seguida, o ponto alto da viagem: o viaduto Carvalho, que está assentado sobre cinco pilares de alvenaria na encosta da própria rocha. Ao passar sobre ele temos a sensação de que vamos ser lançados no espaço.
Ainda bem que existem três pontos de parada para embarque e desembarque. Uma rara oportunidade de desgrudar os olhos das janelas, voltar por uns minutos aos bancos e “descansar” de tanta beleza. São as Estações do Marumbi, Morretes e Paranaguá. Nós fomos até Morretes.
Já a primeira é a porta de entrada do Parque Estadual do Marumbi, local sagrado para montanhistas de todo o mundo. Daqui partem as trilhas que sobem ao Conjunto Marumbi, formado pelos picos Abrolhos, Torre dos Sinos, Esfinge, Ponta do Tigre, Olimpo (ou Marumbi), Boa Vista e Facãozinho. O tempo não ajudou muito. Estava nublado. Não foi possível visualizar o pico. Portanto, sem fotos da montanha!
A prática do montanhismo no Marumbi ficou famosa porque proporciona escaladas de todas as modalidades e graus de dificuldade. Qualquer um que tenha um mínimo de preparo físico e vontade pode enfrentar uma das quatro principais trilhas do parque.
Ao entrar no parque você receberá todas as informações necessárias para que o seu passeio seja feito com segurança e tranquilidade. As principais trilhas são sinalizadas com fitas coloridas e existem setas de orientação nas bifurcações. Mesmo assim não se arrisque a ir sozinho.
Depois de passar pela Estação Marumbi só faltam uns 45 minutos para chegar a Morretes. O dia estava insuportavelmente quente. Durante o desembarque, a muvuca. Eram quase 650 passageiros naquele trajeto.
Senhorinhas da cidade correm para atender os turistas vendendo o que há de mais típico na região: bala de banana e produtos afins. Na própria estação há uma barraquinha montada com algumas destas delícias.
Só a viagem de trem em si já vale o passeio. Mas ao desembarcar tem mais: Morretes e Antonina, duas cidades históricas gracinhas do Paraná. Podem ser visitadas no mesmo dia (com pressa) ou você pode dormir em uma delas para desfrutar melhor o que cada uma oferece.
Uma vez que você desce de trem só resta voltar para casa – Curitiba – de van turística ou de ônibus da Viação Graciosa. As vans cobram em torno de R$ 40,00 por pessoa de Morretes a Curitiba. Já de ônibus a passagem sai por R$ 13,00. É possível também pegar o trem de volta, que sai às 16h de Morretes. Mas é bem cansativo – já que são quase quatro horas para ir (quando não atrasa) e mais quatro no retorno. Como a Mariana precisava ser apresentada o quanto antes ao universo muquiranístico de ser, voltamos de buzão – numa viagem rápida que dura apenas 1h20. E fomos felizes para sempre.
SERVIÇO
Serra Verde Express
Horário de partida em Curitiba
Trem: segunda a segunda, às 8h15.
Litorina: sábado, domingo e feriados, às 9h15.
IMPORTANTE! As passagens da classe econômica – como são muito procuradas – devem ser compradas com duas semanas de antecedência. Moradores de Curitiba e região têm descontos de 30% no bilhete (menos na categoria econômica). É necessário se cadastrar no site da empresa que administra a viagem e apresentar comprovante de residência.
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