Publicado 28/07/2009
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Atualizado 10/07/2010

Foto: Hemisfèric, na Cidade das Artes e da Ciência, em Valência. (Javier Yaya)
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No meio de tantas conquistas e reconquistas foi dominada durante 800 anos pelos mouros. Está entre tapas e cañas, ilhas com azul-turquesa-esverdeado-quase-transparente, areias negras e parques nacionais. Tem até um longo caminho – o de Santiago – para ser feito a pé, de carro ou de bicicleta. Vinho, sangria, tinto verano, ou xerez. Qualquer um deles servirá para embalar sua paella.
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LA SIESTA E SEUS IDIOMAS
A siesta é o maior patrimônio zen-erudito-cultural da Espanha. É uma espécie de meditação ibérica que ocorre sempre depois do almoço e vai até umas cinco da tarde. Ou seja, depois de forrar a pança os espanhóis ficam em um estado sonolento – nem alfa, nem ômega – em que se dão o direito de dormir ou descansar por, pelo menos, uma horinha antes de voltar ao batente.
Nem todas as lojas e escritórios fecham no período de siesta como antigamente, mas é tão cultural tirar essa sonequinha no meio da tarde que boa parte do comércio baixa as portas das 14h às 17h. Os espanhóis adotaram esta tradição como uma forma prática de lidar com o calor intenso do verão europeu. Eu, como notívaga assumida, não perco por nada esse momento yoga-de-ser do espanhol.
O almoço também não é servido muito antes das 14h. Não se assuste se chegar a qualquer restaurante por volta do meio-dia e encontrar as portas fechadas. Para piorar – ou deixar mais excitante – a Espanha tem outros três idiomas oficiais: catalão (uma mistura de espanhol com francês), o galego (bem parecidinho com o português) e o euskara (só um estudioso de hieróglifos para decifrar).
Este último acho que é uma mistura de russo com alemão mais um dialeto próprio. Na verdade nunca sei. Mas sei que é impenetrável. Não existe diferença entre castelhano e español. É o mesmo idioma, o que muda são os regionalismos. Assim, como o português de Portugal e o português do Brasil.
O BARATO DA ESPANHA
MADRI – É a maior cidade do país. Possui dois dos principais museus da Europa, o Prado (com um dos mais importantes acervos do mundo em obras notáveis como As Meninas, de Velázquez) e o Reina Sofía. No primeiro, o ingresso são 6 euros, com entrada grátis aos domingos. O Reina Sofía – onde está a obra Guernica de Picasso – também cobra 6 euros, mas é gratuito no sábado à tarde e no domingo pela manhã. A Puerta del Sol é seu ponto de partida para caminhadas. É uma enorme área comercial com bom acesso ao transporte público. Mas a partir dela é possível conhecer, a pé, boa parte das atrações da cidade. Aqui tire sua foto cartão-postal ao lado da mais famosa estátua da cidade: el oso y el madroño. Circule pela Gran Via – uma das principais avenidas da capital. No número 72 está uma das unidades do Museu del Jamón. Uma mistura de restaurante e mercearia. Não paga nada para entrar, tem sempre um pratinho de degustação e você vai conhecer a maior variedade possível de presunto, ops, jamón que existe. Nas manhãs de domingo há o fervilhante mercado de pulgas El Rastro para investir boa parte do seu dia sem culpa. Já na Plaza Mayor – ex palco da inquisição e touradas – sinta-se em casa. Ponto de encontro de viajantes e madrilenhos. Site da cidade: www.esmadrid.org
BARCELONA – A maior herança do arquiteto Antoni Gaudi, o Parc Güell, é de graça. Um emaranhado de curvas que se misturam com caquinhos de azulejos. Desenhos que formam os mais belos mosaicos da arte contemporânea. Na igreja Sagrada Família (também de Gaudí) – um grande castelo de areia construído no meio da cidade – paga para entrar. Mas é do lado de fora, com uma certa distância, que se vê a inusitada e conflitante arquitetura. Sem falar no La Rambla – o principal calçadão da cidade – e o Bairro Gótico para se perder e andar, que é sempre grátis e desbravador. O Barcelona Card dá direito a transporte público ilimitado, entrada gratuita em vários museus e descontos em restaurantes. São 26 euros por dois dias ou 30 euros por três dias. Analise atentamente o que pretende fazer na cidade para saber se vale a pena ou não comprar um desses. Site da cidade: www.barcelonaturisme.com.
VALÊNCIA – É a expressão máxima da arquitetura futurista e foi cenário do mais recente filme de Almodóvar. Valência – da paella valenciana – abriga a Cidade das Artes e da Ciência, um complexo extraordinário que engloba museu, planetário e o maior aquário da Europa. O local, antes degradado, se transformou na região mais badalada da cidade. Foi um levante para disputar os visitantes com Sevilha – totalmente regenerada depois da Exposição Universal de 1992. O ingresso para conhecer o Hemisfèric (um edifício com teto ovóide com mais de 100 metros de longitude especialmente criado para projeções) e o Museu das Ciências custa 11,20 euros. Apesar do preço não ser, assim, tão econômico para o nosso modelo de viagem 5.0, é o maior barato de Valência. Site da cidade: www.turisvalencia.es
SEVILHA – Moura, dourada e às margens de um rio de nome complicado, o Guadalquivir, a cidade traz em cada esquina sete séculos de domínio árabe. A catedral gótica – que já foi mesquita – é uma das maiores construções cristãs. É daquele tipo de monumento em que se paga para entrar (7,50 euros), mas que do lado de fora (gratuito para babar) rendem muitos mais “oóóóhhhhhs” do que lá dentro. A Torre del Oro, entrada a 2 euros e gratuita às terças-feiras, foi erguida pelos árabes. Originariamente era uma das torres que integravam o muro fortificado de Sevilha. Sua construção é do século 13. É hoje a sede do Museu Naval. No bairro de Santa Cruz, um antigo quarteirão judeu, o passeio é perder-se. Nada restou da antiga comunidade judaica. Tudo aqui lembra castanhola, tapas e tablaos. Site da cidade: www.turismosevilla.org
GRANADA – Fique de joelhos. Em Granada está um dos monumentos mais visitados da Europa, o Alhambra. Uma fortaleza que envolve um rico complexo palaciano que inclui o Alcazaba (o forte), o Alcázar (o palácio), o Generalife (os jardins) e a grande muralha. Exibe os mais famosos elementos da arquitectura islâmica no país. Ingresso a 12 euros. Vá, nem que for para depois comer McDonald’s três dias. O Alhambra restringe o número de pessoas por dia. Chegue cedo ou compre seu ingresso pela internet (www.alhambra-tickets.es). A reserva on-line custa 1 euro a mais. Será sua melhor economia na cidade: não perde-se tempo. Site: www.granada.tur
Foto: Mesquita de Córdoba. (Divulgação)
CÓRDOBA – A 2h de Madri pelo trem AVE, Córdoba tem um centrinho histórico pequeno e fácil de ser derriçado. O ônibus nº 03 para nas estações de trem e ônibus e vai até à Plaza Tendillas, perto da mesquita – o principal atrativo da cidade. A Mesquita de Córdoba já foi o maior templo do mundo islâmico. É uma mistura dos estilos bizantino e gótico e converteu-se em uma das mais imponentes construções da Espanha. Para entrar paga-se 8 euros. Mas durante as missas – todos os dias, às 8h30 e às 10h – a entrada é gratuita. Por ali está o Alcázar de los Reyes Cristianos, construído no século 14. Já foi sede da inquisição espanhola e residência dos reis católicos Fernando e Isabel. Aqui, recepcionaram Cristóvão Colombo antes da partida para a descoberta do novo mundo. Entrada a 4 euros. Gratuito às sextas-feiras. Site da cidade: www.turismodecordoba.org
BILBAO – Se eu fosse você pegaria um vôo low cost a partir de Madri ou Barcelona e desceria em Bilbao só para ver o Museu Guggenheim. Um bate-volta que vai ter lá seu custo. Mas a experiência na volta, não tem preço. Site da cidade: www.visitbilbao.info
ILHAS CANÁRIAS – Todos os guias falam com o maior empenho das Baleares. Mas muitas vezes se esquecem das Canárias, o arquipélago espanhol ubicado a pouco mais de 100 quilômetros do Marrocos e território mais próximo da Madeira, as ilhas portuguesas. A falar de viagem econômica, Lanzarote, Tenerife e Las Palmas são o paraíso na terra. Saramago escolheu a primeira para viver. Em Tenerife há a maior montanha da Espanha, o vulcão Teide. E em Las Palmas (fiz metrado aqui lá lá lá lá!), corra para o bairro de Vegueta – o quarteirão mais antigo da cidade. declarado Patrimônio Mundial. Em qualquer uma delas tem praia – com direito a escolher cor de areia, cascalho e balanço do mar – sempre de graça. Site oficial: www.turismodecanarias.com
PARA FUGIR DO ÓBVIO
Num raio de 200 quilômetros de Madri estão cinco cidades Patrimônio Histórico da Humanidade. Toledo, Segóvia, Ávila, Cuenca e Salamanca. A medieval Toledo – às margens do Rio Tejo – por exemplo, está a 60 km – a meia hora de trem. Não pegue excursão. Na estação Atocha dá para comprar os bilhetes por 6 euros, ida e volta. A Santa Catedral Primada de Toledo demorou 250 anos para ficar pronta e a sacristia abriga obras de El Greco e Tristán. Entrada gratuita antes das 12h, depois das 16h e aos domingos. Fora disso, o ingresso custa 5 euros. Já Segóvia, a 30 minutos de Madri, merece um dia inteiro de visita. A cidade preserva o mais alto aqueduto do Império Romano, com 29 metros de altura. Entre no site oficial da Renfe para saber informações e horários dos trens.
SEM MARCAR TOUCA
Quem está acostumado a viajar de carona,