Publicado 11/07/2011
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Atualizado26/09/2016
Não existe. Leu bem: não há uma viagem certa para um determinado perfil de viajante. O que existem são pessoas mais – ou menos – adequadas para determinadas viagens. Quem faz o passeio é o turista. Não o contrário.
Não basta perguntar se você prefere praia ou montanha, vinho ou cerveja. O que estabelece o índice de sucesso das suas férias são suas expectativas, grau de tolerância, experiências anteriores e capacidade de adaptação.
Ninguém pode decretar se o Alasca é um bom passeio para levar seu bebê de dois meses. Nem mesmo se é o destino mais sensato para ir com seu namorado(a). Muito menos temos como descobrir se você deve ir, de fato, acompanhado.
Viajar sozinho, aliás, é bem mais fácil do que parece. Somos donos do nosso próprio itinerário. Fazemos e desfazemos roteiros a nosso bel-prazer, sem avisar ninguém – com risco zero de desagradar o outro.
Já viajar em dupla ou grupo requer um certo espírito de equipe. Se você pensa que está preparado para enfrentar o mau humor matinal do seu parceiro saiba: todas as nossas características – que vão do comportamento banal ao transtorno obsessivo – costumam se agigantar fora de casa.
É a Síndrome do Momento-Patrão, à qual somos submetidos sempre que taxistas, garçons e camareiras passam a ser nossos pseudo-funcionários.
Identificar um roteiro infalível – e ainda por cima com o companheiro ideal – é quase como acertar aqueles seis numerozinhos da megaloteria nacional. Ou seja, algo raro, mas não impossível de acontecer. É que depois de encontrar a viagem certa, você – todo eufórico – avança duas casas e começa a procurar a… cama certa.
A busca pelo hotel, albergue ou pousada que mais se adapta ao seu orçamento – e aos seus critérios de chatice – seguramente vai revelar uma etapa constrangedora do seu sonho: não existe hospedagem perfeita. É que invariavelmente queremos pagar por uma cama fora de casa menos do que vale o nosso próprio colchão. Mas não abrimos mão das benesses que ele nos traz.
Certo, você é um tremendo pé-quente e já encontrou a viagem e a cama inquestionáveis. O próximo passo é chegar ao ponto turístico certo. Seguramente, você é um viajante que não gosta de clichês e, portanto, vai querer visitar lugares com poucos turistas.
Afinal, turista são sempre os outros, nunca você! O detalhe – lamento informar – que só pelo fato de ter feito sua malinha, reservado seu hotel e se deslocado da sua casa já faz com que se transforme num deles, involuntariamente. Querer fugir dessa condição converte, na hora, seu status: de agoniado “turista” você passar a ser um bem resolvido “babaca”.
Por tudo isso – e outras variáveis – é difícil achar a viagem certa. Se tudo sair dentro da mais perfeita lógica você não vai ter nenhuma história para contar, requisito necessário para o passeio ser fechado em alta resolução. Isso não significa embrenhar-se em rotas incompatíveis com sua realidade, muito menos deixar de planejar muito bem suas férias.
Cabe a você compreender que viagens são seres incompletos que só se satisfazem quando você efetivamente faz parte dela! E isso acontece independentemente se ela está certa ou errada.
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